Já faz muitos anos. Mas ainda me lembro
daquelas manhãs de junho. Uma brisa suave, com o frescor de uma vida boa,
passeava sobre os jardins floridos. Levava com ela as delicadas gotas de
orvalho que cobriam as pétalas das rosas, que enfeitavam aquele lugar. Todos os
dias aquela brisa me encontrava pelo caminho. Cantava-me uma canção graciosa e
iluminada e preenchia meu interior.
Era a natureza se fazendo presente em cada minuto do dia.
Este, serenamente nascia, cumpria seu papel e trazia com ele, ao final da
tarde, uma visão espetacular. Um verdadeiro milagre. Definitivamente, não eram
fins de tarde comuns. Era como se o horizonte fosse um belo quadro. Uma
pintura viva. O sol caía lentamente como se soubesse que havia uma plateia o
admirando. Parecia-me algo tão próximo. Confesso que tinha vontade de sair
correndo ao seu encontro. Sim, na minha ingenuidade de criança, acreditava que
poderia tocar o horizonte.
Hoje sei que
não posso. Tudo o que me cabe é alegrar-me por, pelo menos, ter o privilégio de
contemplá-lo. Orgulhar-me em sentir que sou parte deste cenário encantador.
Desta vida. E, ainda que muitas vezes os meus olhos vejam distorcidas as
paisagens, ainda que meus conflitos internos e externos, ao qual estou sujeita
a cada dia, não me deixem ver a beleza e a brevidade desses momentos, o
horizonte continua lá. Lindo como um milagre.