terça-feira, 28 de outubro de 2014

Ouvir estrelas II

"Amai para entendê-las."

Uma estrela disse-me um dia,
Quando estava triste,
Que a vida é uma dádiva,
um tesouro, um presente.

Que o amor
É o bem amor que existe no mundo
E que para realizar o sonho verdadeiro,
Primeiro, tem que desejar lá do fundo.

Disse-me também que a felicidade
Está dentro de cada coração,
Esperando ser descoberta,
Para mostrar-nos que nada é em vão.

Uma estrela salvou-me
De mim mesmo,
Iluminou o meu caminho
E me fez outra vez ser menino.

***

Ouvir estrelas

http://limelo.blogspot.com.br/2014/01/ouvir-estrelas.html

sábado, 13 de setembro de 2014

Tudo haverá de passar

A dor haverá de passar.
Sim, mas quando?
Pergunto-me.
É tão forte, tão intensa, tão cortante.
Ok, sei, ela haverá de passar.
Só precisa de tempo.
Há um tempo para tudo.
Sim, o tempo.
Só ele pode aplacá-la.
Não posso fugir.
Pelo contrário, tenho que encará-la.
Devo suportá-la.
O pior é ter que sorrir
Sem deixar essa dor refletir em meus olhos.
Impossível.
Ela transborda, derrama.
Mas é minha dor, pelo menos hoje.
Não posso arrancá-la do peito.
Não posso contê-la.
Não posso impedi-la de sangrar.
Amanhã talvez ela já não seja a mesma,
Já não tenha a mesma intensidade.
Eu também não serei o mesmo quando o sol surgir outra vez.
Isso é o que me conforta.
Talvez amanhã essa dor seja apenas uma cicatriz,
Uma lembrança distante de algo que, "ontem", dilacerou meu coração.
Mas hoje, não.
Hoje ela queima, arde, sangra
Tudo ao mesmo tempo.
Hoje ela é dor, simplesmente.
A minha dor.
Só hoje.

Encontro do sol e da lua

Não só de palavras vive a poesia.


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Dar à luz um poema

As entranhas em ebulição.
Caneta, papel, teclas
ao alcance das mãos.
O poema quer nascer.
Quer conhecer o mundo,
Ver as estrelas, o mar,
A vida externa.
Já não cabe dentro da alma.
Quer voar, pousar na flor,
Tal qual borboleta
ou colibri apaixonado,
quer beijar...
Mesmo que seja a tez do word.
Oh, sim!
Como virá à tona não lhe é importante,
se da tinta de uma caneta
ou das teclas de um computador.
Nascer é só o que ele quer.
E ser livre,
ser amor, ser dor,
ser protesto, resistência.
ser esperança.
ser sonho, ser possível.
Realizar-se poesia.
Ser, simplesmente.

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Pronto, nasceu.
Libertou-se, bateu asas.
Pousou sutil, leve como a brisa
num diário solitário.
No olhar de alguém
do outro lado da tela,
do outro lado do oceano.
Olhos cintilaram.
Corações foram tocados.
Um novo universo surgiu.
O poema está em festa,
Viverá.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Mire, menino!

Olhe, menino! Eleve seus olhos ao céu. Veja este azul. Veja que paz ele transmite! Mire! Olhe as estrelas, elas também olham para e por você, querem brincar. Querem ver seu sorriso, seu riso sem preocupação. Querem vê-lo muito feliz. Sonhe, menino! Acredite que tudo é possível. Não fique triste nem por um segundo enquanto é menino. Não há tempo para isto agora. Não deixe sair de seus olhos estas estrelas. Contemple-as sem pressa. E não se esqueça nunca deste momento. Eternize-o em seu coração.

Mire, menino! É a vida presente aqui. Cada minuto vivido não se repetirá. Tudo muda. Tudo é passageiro. Deseje, peça ao céu e ele concederá tudo que você quiser. Preencha sua alma, menino. Cubra-a com amor. Faça parte, pertença! Doe carinho e afeto, e aceite-os de bom grado. Esta é a vida, menino. Talvez você não possa entendê-la agora. Talvez não consiga entender o que falo sobre ela. Em alguns momentos ela vai maltratá-lo, fazê-lo sofrer, chorar, sentir raiva, dor. Uma dor que você, por mais que tente, não vai conseguir explicar nem fazê-la desaparecer por um certo período de tempo. Escute, menino, não há como fugir disso. Mais cedo ou mais tarde você vai se dar conta de que a realidade é densa, cruel e complexa. Mas isso é para depois. Nesse tempo de menino, o seu universo tem de ser lindo, coberto de estrelas atrevidas a piscar sem parar, a dançar sobre sua cabeça, a iluminar o seu olhar. Aproveite, menino, porque em seu mundo de menino você poderá viajar para infinitos lugares e será imensa e eternamente feliz por ter experimentado tudo isso. Pode ser que você se perca pelo caminho, que talvez seja longo, mas que é, verdadeiramente, incerto. Porém, se você guardar dentro do coração fragmentos de cada bom momento vivido, tudo, mas tudo mesmo, será mais fácil.

Olhe, menino! É a vida! Não, não corra! Também não fique parado. Siga tranquilo. Ande no compasso do tempo. No seu tempo. Viva sem medo todas estações - primaveras, verões, outonos e invernos. E quando não for mais menino, senão um homem feito, lembre-se de que a magia (de ser criança) nunca morre. Viverá para sempre em seus olhos até quando o "sempre" lhe for possível. E mesmo que você envelheça e sinta seu corpo se curvar pelo peso dos anos, ainda assim, continuará com olhos de menino a ver e viver a vida como se tivesse milhões de estrelas, aquelas atrevidas, piscantes e dançantes, ao seu redor. 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Descaminhos

Olhava aquele rosto estranho de olhos grandes e esverdeados, refletidos em um caco de espelho que trazia na mão esquerda, suja e insegura. Não se reconhecia.

De repente, viu-se ali, diante de uma pessoa que não era ele. Sim, parecia-se com ele, tinha seus traços, seu sorriso, suas marcas. Sua essência, no entanto, ficara pela longa estrada pela qual caminhara sem saber aonde queria chegar. Em alguns momentos tentou voltar ao ponto de partida, mas para onde fora só existiam labirintos. E estava condenado a vagar por eles. Mas o que ou quem era ele de fato, se não era o que via no pedaço de espelho? Como se chamava? Quantos anos lhe pesavam sobre o corpo esquelético e imundo? Do que gostava? O que fazia naquele lugar frio e por que sua cabeça não conseguia ordenar as ideias? E por que o reflexo no espelho era uma imagem deformada e sem sentido? Ele não sabia. Não sabia porque, numa noite de um ano qualquer, sem perceber, perdera completamente a razão. Na sequência se foram a bela namorada, o emprego, a casa, os carros e tudo mais que o caracterizava como homem digno de tal alcunha. Agora nada mais era que um alguém que vagava sem rumo pelas ruas e avenidas da cidade. Agora era um homem louco e só.  

Às vezes, uma vontade absurda povoava seus pensamentos desordenados. Nesses momentos de delírio, desejava voar. Não voar metaforicamente como o fazem os poetas, mas voar literalmente, praticar o verbo, a ação. Voar como uma gaivota, como o super-homem, como Ícaro, talvez, mas, diferentemente deste, suas asas não derreteriam ao sol, porque as dele seriam de verdade e não de cera como as de Ícaro. Ele era louco, não bobo, ora bolas. Queria, nesse voo, chegar mais perto do céu e do azul que, de alguma forma, talvez por reminiscencias da sanidade, conseguia admirar. Ele deveria saber que o céu não era azul, que aquele azul era como os seus olhos o viam e não como era realmente. Mas e daí? O importante é que o céu que ele via era azul e isso bastava. Se era ilusão ou não, para ele não era relevante. Ele só queria voar bem alto e esquecer, por um minuto que fosse, a crueldade do mundo que, um dia, o fez louco.  

Trazia os olhos cansados e, por vezes, em alguns raros momentos de lucidez, percebia-se ferido na alma. Tinha a sensação de que o coração sangrava. Então, chorava copiosamente, adormecia e, naquela pequena morte cotidiana, sonhava com o homem que um dia fora. No dia seguinte, de nada se lembrava e uma estranha paz o invadia por inteiro. O peso dos anos, roubara-lhe o viço dos olhos e também alguns dentes. Fizera-lhe marcas profundas por dentro e por fora. Quando não notava isso, era imensamente feliz em meio a delírios e sonhos fantásticos que se faziam cada vez mais reais em seu universo de loucura.

É da vida

Faz parte da vida partir... Grandioso é saber a hora  de ir e deixar ir. @liemversos