quarta-feira, 17 de abril de 2013

>> Destino: Ouro Preto

A palavra viagem abrange diversos sentidos. Transportar-se é um deles. Transportar-se para outro lugar, outro contexto, outra cultura. Viajar para Ouro Preto, em Minas Gerais, foi isso. Um belo transportar-se. Aliás, foi além. Foi um abrir de janelas para um universo, antes, apenas imaginado por meio das histórias contadas nos livros, mas desconhecido no seu caráter intrínseco e verdadeiro.
Conhecer Ouro Preto - um pedacinho dela - Foi uma aventura incrível. Memorável. Estar ali. Caminhar sem pressa. Esquecer da vida por algumas horas. A cidade carrega em cada canto de suas ruas de paralelepípedo, em cada ladeira, em cada igreja e sua arquitetura, as marcas de um passado complexo. Um passado de riquezas e tristezas. De ganância e escravidão. De conflitos. De lutas por liberdade.
Na senzala, impossível não se sensibilizar, mesmo depois de tanto tempo. Instrumentos de variados tipos submetiam os escravos a uma forma de existência brutal. Estavam condenados àquela condição. No interior da Igreja Matriz Nossa Senhora do Pilar, características marcantes da sociedade e dos artistas da época. Incrivelmente ornamentada com folhas de ouro e prata. Anjos e arcanjos cuidadosamente esculpidos. Em cada imagem, um significado. No acervo do Museu de Arte Sacra do Pilar, entre outras, obras do grande nome do barroco mineiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 
Vila Rica foi se construindo sob enormes jazidas de ouro, exploração e muita dor. Tornou-se Ouro Preto. Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Na Praça Tiradentes, o pretérito faz-se presente por um instante. É o guia turístico narrando a história. “Roubaram a cabeça de Tiradentes”, conta, sobre o mártir da inconfidência. Os pés ficam no chão. A imaginação, agarrada às asas do tempo, viaja três séculos atrás. As imagens, as cenas dos acontecimentos se apresentam. Homens, mulheres e crianças. Escravos e senhores. Ricos e pobres misturam-se involuntariamente. Povoam as ruas. Carregam suas cruzes.
Foram dias pluviais. Mas, como disse o grande poeta,  Fernando Pessoa, os dias de chuva são tão bonitos quanto os dias de sol, cada um à sua maneira. E o dia em Ouro Preto foi realmente belo, pois, a seu modo, aquelas chuvinhas atrevidas fizeram-se eternas na brevidade que lhes cabia. E por falar em poesia, nada poderia ser mais poético na viagem do que um passeio de Trem. Cinquenta minutos é o tempo de duração do trajeto – de Ouro Preto a Mariana. Da janela, uma vista deslumbrante. Verdes e imensas montanhas. Lindas cachoeiras. Natureza em sua mais pura essência.
Mas, como na vida tudo passa, a viagem chegou ao fim. Nas fotografias cheias de paisagens, amigos e sorrisos, os recortes de momentos que jamais se repetirão. Ainda que outras viagens ao mesmo lugar aconteçam. A grandeza da vida se dá justamente nesse caráter singular de ser. Cada cena é única. Cada experiência é enriquecedora. E o que resta no final? Lembranças. Sim. Boas lembranças. Uma forma imaterial de transportar-nos e conceber um novo universo.

2 comentários:

  1. Também visitei Ouro Preto e Mariana, e me apaixonei...
    Você escreve maravilhosamente bem. Gostei muito. Abraços!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É realmente apaixonante, Ianê, inesquecível. Obrigada. Bjs.

      Excluir

Anseios

Coisas da vida,  coisas do coração... Pior ainda se for sobre paixão: onde houver expectativa, haverá decepção. @liemversos