segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Blue moon

Há dias em que sou primavera.
Floresço em todas as cores, formas e olores.
Há dias em que sou estrada longa e triste
A espera de alguém que deixe em mim suas pegadas.

Há dias em que sou céu coberto de estrelas,
Derramo sobre a terra luz e mistério.

Há dias em que sou mar,
Por vezes calmo, por vezes violento.

Há dias em que adormeço aurora e desperto crepúsculo.
Há dias em que sou poema ainda por ser escrito.
Há dias em que sou fogo em labaredas faiscantes.
Há dias em que sou lago frio preso às minhas ilusões.

Há dias em que sou realidade; noutros, miragem.
Há dias em que choro sem saber o porquê.
E há dias em que sinto o peito explodir em uma alegria
Que parece não ter fim.

Há dias em que a vida não faz sentido
E outros em que meus sentidos
Amam cada pedacinho dela.

Há dias em que caio no abismo mais profundo e terrível
Que se possa imaginar.
E outros em que de tão leve
flutuo como uma melodia de Bach.

Há dias em que sou tempestade, noutros serenidade.
Há dias em que sou pesadelo, noutros nuvem viajante.
Há dias em que não me vejo, não sou nem estou
E outros, em que sou inteiramente parte do todo.

Não há, todavia, um só dia
Em que eu não seja a mais pura contradição.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A viagem

Projetei minha alma para o infinito,
Viajei.
Foi apenas por um minuto,
Mas estive lá.

Nesses poucos segundos,
Fui parte dos mistérios profundos
Das galáxias.
Fui inteiramente parte de lá.

A mágica do momento vivido
Revela-se no brilho de meus olhos
Tão diminutos,
Mas que por um instante
Conheceram a perfeição,
O inimaginável, o inacreditável.

Eu estive lá.
E jamais sentirei
Que não faço parte da arte
De viver, verdadeiramente, no esplendor
Do que parece impossível.

Não, não foi um sonho.
Tampouco a realidade
De que se tem conhecimento
A humanidade.

Foi algo que não se conhece,
Que não se repete.

O que vi, guardei em mim.
E foi assim que descobri
Que meu céu é único,
Só eu o conheço e posso alcançar.
Acredite, eu estive lá.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Crepúsculo de outros tempos

Antes era a imaturidade.
A doce ignorância.
O não saber, 

Por ainda não ser o tempo de saber.

Antes era a beleza,
O sorriso aberto,
Sem a máscara,

Sem a prisão.

Tempo brincar, 
De sonhar. 

Antes eram tantos mundos,

Tantas viagens,
Tantos heróis e vilões pelos caminhos
Da fértil imaginação.


O
 horizonte parecia estar tão perto.
Ao alcance das mãos.

Antes era a felicidade plena,
 
Sem algemas,
Sem preço,
Sem segredos relevantes.

Antes o medo era apenas do escuro.
E a maldade só existia nos contos de fadas.


Mas eis que chega a realidade.

Assim, num fechar e abrir de olhos.
Com ela, o fim da inocência. 
O mal está em toda parte.

Os dias passam sem piedade,
Mas também com muita graça.

Sim, apesar de tudo.

Lembranças passeiam nos labirintos
De meus pensamentos.

Misturando-se ao presente
Tão certo 
e
A dias vindouros que não os são. 
Não sei se chegarão.

Mas o que importa tudo isso?
Qual o sentido de minhas palavras?


O mundo gira sem parar, 
Independentemente de meu existir
E da dor que carrego
Por ser o que sou: humana,
Errante.

No final das contas,
A vida é uma grande e perfeita

Obra poética. 
Poesia viva.
Em prosa e versos,
Sorrisos e lágrimas,
Poesia que pulsa
E, por vezes, sangra.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

>> Destino: Ouro Preto

A palavra viagem abrange diversos sentidos. Transportar-se é um deles. Transportar-se para outro lugar, outro contexto, outra cultura. Viajar para Ouro Preto, em Minas Gerais, foi isso. Um belo transportar-se. Aliás, foi além. Foi um abrir de janelas para um universo, antes, apenas imaginado por meio das histórias contadas nos livros, mas desconhecido no seu caráter intrínseco e verdadeiro.
Conhecer Ouro Preto - um pedacinho dela - Foi uma aventura incrível. Memorável. Estar ali. Caminhar sem pressa. Esquecer da vida por algumas horas. A cidade carrega em cada canto de suas ruas de paralelepípedo, em cada ladeira, em cada igreja e sua arquitetura, as marcas de um passado complexo. Um passado de riquezas e tristezas. De ganância e escravidão. De conflitos. De lutas por liberdade.
Na senzala, impossível não se sensibilizar, mesmo depois de tanto tempo. Instrumentos de variados tipos submetiam os escravos a uma forma de existência brutal. Estavam condenados àquela condição. No interior da Igreja Matriz Nossa Senhora do Pilar, características marcantes da sociedade e dos artistas da época. Incrivelmente ornamentada com folhas de ouro e prata. Anjos e arcanjos cuidadosamente esculpidos. Em cada imagem, um significado. No acervo do Museu de Arte Sacra do Pilar, entre outras, obras do grande nome do barroco mineiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 
Vila Rica foi se construindo sob enormes jazidas de ouro, exploração e muita dor. Tornou-se Ouro Preto. Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Na Praça Tiradentes, o pretérito faz-se presente por um instante. É o guia turístico narrando a história. “Roubaram a cabeça de Tiradentes”, conta, sobre o mártir da inconfidência. Os pés ficam no chão. A imaginação, agarrada às asas do tempo, viaja três séculos atrás. As imagens, as cenas dos acontecimentos se apresentam. Homens, mulheres e crianças. Escravos e senhores. Ricos e pobres misturam-se involuntariamente. Povoam as ruas. Carregam suas cruzes.
Foram dias pluviais. Mas, como disse o grande poeta,  Fernando Pessoa, os dias de chuva são tão bonitos quanto os dias de sol, cada um à sua maneira. E o dia em Ouro Preto foi realmente belo, pois, a seu modo, aquelas chuvinhas atrevidas fizeram-se eternas na brevidade que lhes cabia. E por falar em poesia, nada poderia ser mais poético na viagem do que um passeio de Trem. Cinquenta minutos é o tempo de duração do trajeto – de Ouro Preto a Mariana. Da janela, uma vista deslumbrante. Verdes e imensas montanhas. Lindas cachoeiras. Natureza em sua mais pura essência.
Mas, como na vida tudo passa, a viagem chegou ao fim. Nas fotografias cheias de paisagens, amigos e sorrisos, os recortes de momentos que jamais se repetirão. Ainda que outras viagens ao mesmo lugar aconteçam. A grandeza da vida se dá justamente nesse caráter singular de ser. Cada cena é única. Cada experiência é enriquecedora. E o que resta no final? Lembranças. Sim. Boas lembranças. Uma forma imaterial de transportar-nos e conceber um novo universo.

Anseios

Coisas da vida,  coisas do coração... Pior ainda se for sobre paixão: onde houver expectativa, haverá decepção. @liemversos