sexta-feira, 10 de junho de 2016

Sobre mergulhos

Vive de verdade
quem mergulha fundo
e se deixa mergulhar.
Seja no mar, no sorrir,
no olhar.

É preciso insistir

















Por Sueli Melo

Talvez uma das coisas mais difíceis de ser conquistada nesta vida seja a nossa capacidade de compreender - justamente pela dor que isso causa - que não podemos controlar o mundo à nossa volta. Mas a gente se engana. Acha que sempre está no comando das situações. Não estamos, porém.

Porque a vida é feita de relações nada simples. Qualquer que seja a situação, ela vai envolver sentimentos diversos. E em maior ou menor intensidade: raiva, amor, tristeza, alegria, medo, insegurança. E no sentir, pensar e agir das pessoas ninguém pode mandar. Nem mesmo quem os vivencia.

Cada um é um universo complexo e desconhecido - muitas vezes de nós mesmos -, que, ingenuamente, acreditamos conhecer. Tentar entender e aceitar essa realidade é uma luta penosa e constante. É preciso arranjar forças e acreditar que o impossível não existe, para tentar vencer, a cada dia de vida, os males que nos matam por dentro e ser um ser melhor. É preciso insistir. Sempre. Esta é a minha busca.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Deixar ir


Amor é laço, não gaiola.
Se for hora de partir,
a gente tem de desatar
e deixar ir.
Amor não se obriga
nem se implora.
Ninguém controla
o que o outro coração
decide sentir.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Amanhecer em mim

E quando tudo era noite em mim,
você chegou e me trouxe a aurora
mais linda e colorida que já vi.
Amanheci.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Adiós, Miguel!


Havia um jovem chamado Miguel, que vivia muito triste e desenganado. Para ele, nada tinha sentido. Em seus dias, nada mudava, tudo era sempre exatamente igual. Não importava se era primavera, outono ou qualquer estação. Seus olhos viam tudo em cor cinza.

Pela manhã, despertava às sete, tomava um café preto, lia o jornal e seguia para o trabalho, que não ficava longe de onde morava. Lá, havia muitas pessoas: homens e mulheres, jovens como ele. Todavia, não tinha amigos, tratava com indiferença todos que dele se aproximavam. 

Miguel tinha 27 anos, mas por conta de sua postura carrancuda, parecia ter bem mais. Era culto, inteligente e de boa aparência. No entanto, havia em seu semblante uma melancolia profunda. Era como se a vida nunca lhe houvesse dado razões para alegrar-se. Nada lhe despertava a atenção. Nada fazia brotar em seus lábios um sorriso. À noite, antes de dormir, sua cabeça dava voltas e voltas, enquanto seu coração tornava-se cada vez menor. Não entendia o porquê de tanto sofrimento e, muitas vezes, chegou a pensar em pôr um ponto final em sua vazia e medíocre vida.

Certo dia, porém, uma voz lhe soprou aos ouvidos, que havia algo mais. Que poderia experimentar a felicidade.
- Sim, ela é passageira, mas não é privilégio de poucos - foi o que ele ouviu.
- Todos têm o direito de vivê-la em algum momento do caminho.
O pobre rapaz nunca tinha escutado aquela voz tão serena. Ele sentiu que devia segui-la. 

Despertou numa manhã e notou que seu coração pulsava de um modo diferente. Ele nada entendeu, mas gostou muito daquela sensação que, pela primeira vez, o invadia por todos os poros de seu corpo. Nunca mais foi o mesmo. Abriu-se para a vida e para os presentes que ela apresenta a cada dia. Amores, sorrisos, paixões, amizades. Tristezas, dores e perdas também vieram, pois são parte que compõem o todo. Ele também compreendeu isso e, resignado, aceitou sua condição.

O tempo voou e nas asas deste, o nosso herói renovado, renascido. E daquele rapaz amargo e desesperançado nada restou. Ele descobriu que a vida é breve. Percebeu que não há tempo para lamentações infindáveis. Esse tempo regalado a cada um tem que ser aproveitado. Ainda que haja dúvidas e muitas lágrimas. Ele descobriu que viver vale a pena "se a alma não é pequena" como disse um dia o poeta.

Mas a alegria da descoberta durou pouco, se comparada aos anos de amargura pelos quais passara Miguel. Numa manhã de céu claro, ele seguia para o parque com a bicicleta que havia comprado uma semana antes. Enquanto pedalava, pensava na nova vida que queria ter. Arrumara uma linda namorada, a Josefina. Pretendia casar-se com ela, ter filhos e viver feliz para sempre, se assim fosse possível. Ele sabia que não era, mas sonhar não custa nada, certo? Marcara com Josefina naquela manhã. A moça estava a caminho. 

Pois bem, leitor amigo, chame de destino, acaso ou fatalidade o que veio a seguir. Um carro o pegou, quando atravessava uma rua sem sinalização, a poucos minutos do parque. Miguel morreu ali mesmo, aos 35 anos, sem ao menos se despedir da amada e da vida que agora lhe era tão boa. Tão plena. Virou estatística. Mas teve a sorte de ter sua história contada, na página de um blog.

Sueli Melo

terça-feira, 22 de março de 2016

O que vejo da vida

A vida começa todos os dias. A cada dia somos apresentados a novos horizontes, novas possibilidades. Por isso, não importa se hoje foi de chuva, se fez calor, se a gente brigou com alguém que ama. Sempre se pode mudar as coisas ao redor.

Não somos perfeitos. Erramos e acertamos, sofremos e fazemos sofrer, choramos. Muitas vezes nos sentimos desmotivados, sem vontade de seguir adiante. E várias perguntas passeiam por nossa cabeça: "por que estou aqui?" "Qual é o meu propósito neste mundo?" "Por que minha vida é assim?" "Por que sofro? As respostas nem sempre se mostram claras. As perguntas vêm e vão e a vida também se vai desse jeito. Ainda assim, vale a pena.

Há tantos ministérios, tantas coisas por descobrir, em nós e no outro, ao descortinar de cada manhã. Mesmo que não haja sentido (aparentemente), em algum momento a gente encontra um significado. Seja ao estender a mão a alguém, seja ao alcançar um objetivo, seja simplesmente por nos sentirmos vivos.

Viver é mais do que existir. É mais do que sentir o peito explodir em uma alegria sem tamanho ou se despedaçar pelo que os olhos veem. Pela violência gratuita, pelo medo, pelos abusos diversos, por tudo que dói na alma e também no corpo.

A vida é mais do que nos é apresentado. É mais que raiva, dor, angústia, solidão. A vida é feita de pequenas coisas que formam um todo. Assim como o universo. Somos apenas uma parte. As manhãs de primavera, as doces tardes zuis de outono, amor, felicidade, tristeza, desejo de mudança - tudo se completa. E apesar das noites escuras e céus sem estrelas, falta de empatia e de luz, a vida se faz bela. É a complexidade do que somos e vivemos que nos torna únicos. Não vamos fechar os olhos. Deixemos fluir, independentemente do que aconteça. 

Vejo coisas no mundo que machucam o meu ser. Que me fazem pensar que tudo é tão triste e tão pesado. Vejo ignorância, intolerância, gente que mata e morre por tão pouco - quase nada. Mas também vejo beleza em tantas atitudes, em corações e olhos tão serenos. Vejo dor, mas também esperança. Vejo que tudo é possível. Que é possível seguir na direção do amor.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Deixar (se) sentir

 A Persistência da Memória, de Salvador Dalí













 
É que vida só sabe ir embora.
E, ao ir-se, deixa-nos a chance da novidade.
Outro jeito de olhar o mundo,
infinitas possibilidades.
Por isso é fascinante!
Viver é um constante renovar-se.
É mais ou menos como acontece
com as folhas que caem no outono.
A árvore precisa deixá-las morrer
para que, mais tarde,
a primavera floresça
em seus galhos nus.
Quando chega a hora,
também precisamos deixar ir...
Eis a beleza essencial!
Cada qual tem a sua vez de pertencer,
seu tempo de estar, de ser.
Um tempo que se vai sem dó,
mas que torna eterno
o que é verdadeiro, 'real'
para os que, na sua vez,
ousam, de peito aberto
se deixar sentir.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Café com Pão

Café com Pão era um mendigo que perambulava pelos arredores da Escola Nossa Senhora de Fátima, em Januária, lá nos confins de Minas Gerais, na década de 1990. O apelido não se sabe quem lhe deu. Sua história, de onde ele veio, qual era seu verdadeiro nome também eram uma incógnita. Era como se o homem tivesse surgido em um passe de mágica.

Café com Pão era alto e forte. Àquela altura, aparentava carregar sobre os ombros meio século de vida. Sobre os ombros ele também trazia um saco de estopa que não largava por nada no mundo, com seus pertences. Parecia carregar ali um tesouro, uma relíquia. Talvez sonhos perdidos. Os cabelos despenteados eram grisalhos e encaracolados, assim como a barba que lhe cobria o rosto quadrado e desgastado pelo tempo. Ainda que na cidade fizesse um calor insuportável, Café com Pão não abria mão de seu terno, que era sempre o mesmo: velho e rasgado embaixo dos braços, cuja cor cinza se confundia com o encardido. Os sapatos eram surrados e furados, o que fazia com que seus dedões ficassem à mostra.

Ninguém sabia dizer, ao certo, de onde surgira aquele homem que trazia os olhos vagos, perdidos inconscientemente nos horizontes alaranjados daqueles fins de tarde. Os adolescentes que, como é sabido, não são gente, desciam as ladeiras da escola, pequenas ruas de paralelepípedo, em suas bicicletas sem freio. E, ao passarem perto de Café com Pão, cantarolavam repetidas vezes em uníssono “Café com pão, manteiga não”. “Café com pão, manteiga não”. Riam como se o mundo fosse uma eterna festa e iam-se embora.

Pobre Café com Pão, sequer ouvia aquelas vozes. Sequer notava a presença dos intrusos que invadiam seu mundo louco. Café com Pão era dócil, nunca havia jogado pedras ou corrido atrás de ninguém - como fazem alguns nas mesmas condições que ele, que vagam pelas ruas, sem rumo. Em sua loucura, se não parecia feliz, tristeza também não denotava. Às vezes ficava parado no mesmo lugar por um longo período, como que viajando pelos interiores de seu Eu, outras vezes , conversava animadamente e até gargalhava com pessoas que só existiam em sua cabeça.

Quem era Café com Pão tornou-se o grande mistério daquele lugar. Ninguém jamais soube. Mas Café com Pão viverá para sempre nas lembranças adolescentes de quem viveu aqueles anos. Porque Café com Pão não era só um mendigo desconectado da realidade. Era um ser diferente de tudo que ali existia. E que andava de um lado para o outro no meio da garotada. E que era parte essencial daquela paisagem, daquela vida descompromissada e até mesmo besta, mas feliz e poética, como costuma ser a vida nas cidades pequenas. 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Ah, o mundo

O mundo é um lugar hostil.
É isso que sempre se viu.
Olhe ao redor, repare, perceba:
tanta soberba, tanta guerra,
tanta tristeza. Mas não...
Não vou desistir da vida.
Sei que também existe amor
e outras tantas coisas lindas.
verdadeiras poesias
que não precisam ser escritas -
apenas sentidas.
Vividas.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O amor é livre

Amor é laço, não gaiola.
Se for hora de partir,
a gente tem de desatar
e deixar ir.
Amor não se obriga
nem se implora.
Ninguém controla
o que o outro coração
decide sentir.

Anseios

Coisas da vida,  coisas do coração... Pior ainda se for sobre paixão: onde houver expectativa, haverá decepção. @liemversos